Até quando …
Este texto é um convite profundo à reflexão, transformação e coragem para atravessar o Jordão. É um eco do que Deus disse por meio de Moisés, agora recontado com o toque de uma mulher que ama o cuidado e ama o Espírito.
Devocional – “Deserto, até quando?”
“O Senhor, nosso Deus, nos falou em Horebe, dizendo: ‘Já é suficiente o tempo que vocês passaram neste monte’.”
(Deuteronômio 1:6, reescrito: “Filha, você já passou tempo demais girando nesse mesmo lugar. O tempo da permanência acabou, agora é hora de atravessar.”)
Existem momentos na caminhada de fé em que o chão parece seco demais, e o céu longe demais. A alma sente sede, mas não encontra água que sacie. Os pés estão cansados de dar voltas no mesmo território emocional, espiritual ou até mesmo físico. Esses são os dias de deserto — longos, duros, mas também profundamente formadores.
O deserto na Bíblia sempre aparece como um local onde Deus trata com o coração. Foi assim com o povo de Israel, com Elias, com Jesus. O deserto nunca é destino final. É passagem. Mas, para quem está nele, pode parecer morada. E é exatamente aí que o coração pergunta: “Deserto, até quando?”
O povo de Israel passou 40 anos vagando, mesmo com uma promessa de liberdade e terra. Era para ser uma travessia rápida. Mas se tornou um ciclo. E isso aconteceu não porque Deus esqueceu, mas porque o povo não aprendeu. A terra prometida já estava garantida, mas o caráter ainda precisava ser moldado. Não era só sobre chegar — era sobre como chegar.
Assim como aquele povo, nós também podemos viver ciclos no deserto quando não paramos para perceber que o tempo está cumprido, e é hora de atravessar. O perigo é nos acostumarmos com a escassez, com a sobrevivência, com a dor reciclada. É possível que uma mulher viva anos em desertos emocionais, espirituais, até mesmo relacionais, sem perceber que a nuvem de Deus já começou a se mover.
Moisés, antes de conduzir o povo para atravessar o Jordão, se levanta como um eco da voz de Deus. Ele diz: “Lembrem-se do caminho. Lembrem-se da Palavra. Lembrem-se do que o Senhor ensinou no tempo do deserto.” Porque a travessia segura começa na memória. Quem lembra do que Deus disse, atravessa com firmeza.
E é aí que entra a nossa escolha.
Sim, o deserto é tempo de decisão.
Foi no meio da minha juventude, Isa — quero te contar — que vivi uma das primeiras experiências de escolha entre luz e trevas. Eu era apenas uma adolescente quando aceitei um convite inocente para conhecer uma danceteria. Nunca tinha ido. Não sabia o que era dançar em público, nem tampouco experimentar bebida alcoólica. Estava curiosa, como qualquer moça da idade. Aceitei, mas cheguei lá e logo senti algo estranho. Um incômodo interno, como quem percebe que está fora do lugar. Recusei a bebida, e depois de menos de uma hora, saí dali com um entendimento forte: aquele não era meu ambiente. Voltei pra casa em silêncio, e nunca mais voltei para um lugar como aquele. Tive que escolher entre o conforto da curiosidade ou a fidelidade ao que Deus já estava plantando em mim. Escolhi Deus.
Hoje entendo que, naquele dia, Deus estava me ensinando a fazer escolhas no “deserto” da juventude — aquele lugar onde o certo e o errado parecem nebulosos, onde a vontade grita, e o Espírito sussurra.
O deserto é esse lugar: onde o grito da carne e o sussurro do céu travam batalhas.
É o lugar onde precisamos decidir entre ceder à tentação ou nos submeter a Deus. A Palavra nos chama com clareza:
“Submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês.” (Tiago 4:7)
Reescrito: “Filha, quando você se posiciona sob a cobertura do céu, o inferno recua. Não é pela sua força, é pela sua rendição.”
O deserto revela o que amamos. E, muitas vezes, nos obriga a confrontar os próprios desejos.
O livro de Provérbios também nos alerta:
“Não se envolva no caminho dos perversos, nem ande pelo caminho dos maus. Evite-o; não passe por ele; desvie-se dele e passe longe.” (Provérbios 4:14-15)
Reescrito: “Não brinque com o que pode te derrubar. Aquilo que parece inofensivo hoje pode ser a corrente que te prende amanhã. Se afaste antes que seja tarde.”
A carne sempre vai propor atalhos. Mas os atalhos sempre nos afastam da promessa.
E é por isso que Gálatas nos lembra:
“Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e os seus desejos.” (Gálatas 5:24)
Reescrito: “Você é de Jesus. E ser Dele significa negar o que a carne pede em favor do que o Espírito revela.”
É no deserto que essas verdades deixam de ser versículos decorados e se tornam escolhas práticas. Como reagimos quando ninguém vê? Como falamos quando estamos frustradas? Como agimos quando a espera se prolonga?
O povo de Israel murmurou. Quis voltar ao Egito. Disseram: “Lá tínhamos carne, pão. Aqui, temos fome.” (Êxodo 16:2-4)
Eles esqueceram que o Egito era prisão.
Eles romantizaram o cativeiro por causa da escassez do deserto.
Preferiram a escravidão à liberdade, só porque a liberdade exigia fé.
E quantas de nós fazemos o mesmo?
Idealizamos relacionamentos tóxicos só porque oferecem companhia.
Mantemos hábitos ruins só porque são “mais fáceis”.
Escolhemos atalhos que ferem o coração de Deus só para não encarar o preço da obediência.
Mas há um chamado hoje, Isa. Um chamado ao rompimento. À travessia.
O tempo no monte já deu.
Deus está dizendo: “Você já aprendeu. Agora, atravesse.”
É hora de entrar na Terra Prometida.
Mas, antes disso, lembre-se.
Lembre-se das madrugadas de oração.
Lembre-se dos choros no chão do quarto.
Lembre-se das palavras proféticas.
Lembre-se da fidelidade de Deus.
Lembre-se de quem você é Nele.
O deserto nos ensinou. Agora, é hora de usar o que foi aprendido.
Momento eu e Deus – Reflexão final
No dia a dia de uma mulher, o deserto não é sempre um lugar literal. Pode ser um casamento frio. Uma rotina exaustiva. Uma alma cheia de perguntas. Um corpo que adoeceu. Uma amizade rompida. Um sonho que não saiu do papel. E nessas realidades, a pergunta ecoa: “Deserto, até quando?”
Mas o céu responde: “Até agora.”
Chegou o tempo da travessia.
Não significa que todos os problemas vão sumir. Mas significa que o tempo da inércia acabou. É hora de decidir. De levantar. De atravessar. De viver com o que Deus já plantou em você nesse tempo duro.
Você não é mais a mesma mulher que entrou nesse deserto.
Hoje, você é mais forte.
Mais sábia.
Mais íntima de Deus.
Mais sensível à voz do Espírito.
Mais preparada para a Terra Prometida.
O tempo do monte acabou.
Agora, é tempo de avançar.
Deixar a murmuração.
Deixar a indecisão.
Deixar o medo.
Deixar os ciclos.
É tempo de romper.
Você não vai viver no deserto para sempre.
A terra prometida está diante dos seus olhos.
Ela tem cheiro de recomeço.
Ela tem gosto de descanso.
Ela tem paisagens que você nunca viu.
Ela tem promessas que estão prestes a florescer.
Mas ela exige uma decisão: lembrar de tudo o que Deus falou… e atravessar.
Amém.
Autora: Isabela Santos, Mentora de mulheres